quinta-feira, 3 de maio de 2012

Mulheres no Poder - realidade nacional




Mais mulheres no comando
O domínio da turma do batom
Autor(es): » Bruno Silva
Correio Braziliense - 18/03/2012
 
Cresceu a presença feminina em cargos de chefia nas empresas privadas e no setor público, mas elas ainda recebem salários menores que os dos homens.

Pesquisa aponta que o número de mulheres em cargos de chefia no Brasil cresceu na última década, mas os salários delas ainda são menores que os dos homens

Um país que tem pela primeira vez em sua história uma mulher na presidência da República também é um dos locais com o maior número delas no comando de equipes. Na terceira reportagem da série sobre a participação feminina no mercado de trabalho, o Correio mostra o crescimento da quantidade  de mulheres à frente de empresas, corporações e setores do serviço público, além das histórias e dos desafios daquelas que chegaram no topo.

Segundo dados do instituto Data Popular, com base na Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho, a quantidade de diretoras de empresas e organizações cresceu 4,2% entre 2003 e 2010. No mesmo período, o número de gerentes aumentou 4,8%, enquanto o de mulheres no comando de autarquias e sociedades de economia mista, como a Petrobras e o Banco do Brasil, subiu 2,9%. A única queda foi registrada entre dirigentes de órgãos públicos: -0,1%.

Há dois anos, a pedagoga Cynthia de Toledo Losso, 50 anos, assumiu a coordenadoria-geral de normas e gestão de pessoas da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Mas a experiência com cargos de chefia vem de mais tempo. O primeiro deles foi em 1988, quando veio de São Vicente (SP) para trabalhar no Ministério da Educação, na assessoria do secretário de Educação Especial. Ela afirma que nunca foi impedida ou preterida de ocupar um cargo por ser mulher. “Também não me senti discriminada. Na profissão que escolhi, se houve algo do tipo, não passou por mim. Eu me considero uma exceção, pois se fala muito nesse preconceito.” Cynthia acredita que ser mulher ajuda a desempenhar seu cargo atual. “O pessoal se abre mais fácil, conversa mais, traz os problemas. Quando você é receptiva para a equipe, está sempre um passo à frente para resolver os problemas”, explica.

Para a gerente de visão de RH da Vivo no Centro-Oeste e no Norte, Andreia Pereira, 47 anos, as mulheres também são firmes quando devem fazer decisões. “Sendo homem ou mulher, você, às vezes, precisa colocar uma posição sua, ou da organização, e a equipe tem de aceitar”, afirma a gestora, que coordena uma equipe de 10 pessoas em 12 estados e lida indiretamente com cerca de 2,5 mil funcionários.

Andreia assumiu o cargo há sete meses, mas está na Vivo há nove anos — cinco deles em Goiânia, sua terra natal, e quatro em Brasília. Antes de entrar na empresa de telefonia, passou pelos setores de construção civil, hotelaria e bebidas. Ela não vê muitas diferenças entre os estilos de chefiar de homens e mulheres. “Hoje, com a necessidade que as pessoas têm de um retorno do seu trabalho, acho que ter um estilo observador é uma prática que um bom gerente faz, independentemente do sexo”, opina.

Como seu trabalho envolve vários estados, ela passa cerca de uma semana por mês em viagens e conta com o computador e o celular para conciliar a carreira e a família. “A tecnologia me ajuda muito para, por exemplo, acompanhar o desempenho escolar dos meus dois filhos”, diz a gerente, que também conta com a ajuda do marido. “Somos apenas nós quatro da família em Brasília, então precisamos nos organizar.”

Estímulo
A ampliação do número de mulheres em posições de chefia é uma consequência do próprio aumento da quantidade de trabalhadoras. “A maior presença delas no mercado de trabalho é um elemento que estimula e acaba provocando a chegada a esses cargos. Obviamente, se há mais mulheres, elas concorrem mais a tais postos”, avalia Cláudio Salvadori Dedecca, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (Abet).

Na visão de Dedecca, o fato de as brasileiras terem cada vez menos filhos também favorece a competitividade feminina. “Com isso, ela se afasta menos do mercado de trabalho ou acaba nem se afastando”, justifica o docente. Foi o caso de Cynthia, que teve apenas uma filha para poder se dedicar à maternidade sem atrapalhar a carreira. “Não queria ser uma mãe que não daria a atenção que o filho merece”, diz. Ela acredita que o fato de não frear sua trajetória profissional ajudou a ensinar a filha, Catarina, hoje com 21 anos, a dar valor ao trabalho.

A professora do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em mercado de trabalho Débora Barem aponta que as mulheres chegam cada vez mais ao topo por estudarem mais. “Elas viram que precisam ter conhecimentos e competências para que consigam estar de forma competitiva no ambiente de trabalho. No momento em que conseguiram se especializar, começaram a competir em pé de igualdade”, comenta a especialista.

Dedecca ressalta que a existência de mulheres em postos altos deveria ser mais expressiva, e que ela ainda se encontra em posições de desvantagem. “Muitas vezes, mesmo em funções de chefia, o salário é mais baixo que o dos homens. Isso é importante para que não haja um imaginário de que esse aumento da presença feminina constituiu uma situação de não discriminação nos cargos superiores”, alerta o professor.

Para o sócio-diretor da Data Popular, Renato Meirelles, a pesquisa significa que as mulheres estão mais capacitadas para o mercado de trabalho, mas ainda enfrentam dificuldades. “Elas estudam mais, e crescem a custo de muito sacrifício pessoal, como o adiamento da maternidade. Conseguem avançar porque estão bem preparadas. Os dados não querem dizer que as empresas estão mais abertas, e sim que as mulheres estão brigando de forma mais efetiva por esses postos”, aponta.

Segundo a pesquisa, o rendimento do trabalho formal das mulheres brasileiras é, em média, 17% menor que o dos homens. Meirelles aponta que as disparidades aumentam de acordo com o nível do posto ocupado. “Quanto maior o cargo, maior a diferença de salários e mulheres”, reforça o especialista. Ainda segundo os dados do instituto, as diferenças de remuneração entre homens e mulheres variam entre 33% a 145%, dependendo do setor.

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